segunda-feira, 6 de abril de 2020

PENSAR É TRANSGREDIR



"Não lembro em que momento percebi que viver deveria ser uma permanente reinvenção de nós mesmos — para não morrermos soterrados na poeira da banalidade embora pareça que ainda estamos vivos. Mas compreendi, num lampejo: então é isso, então é assim. Apesar dos medos, convém não ser demais fútil, nem demais acomodada. Algumas vezes é preciso pegar o touro pelos chifres, mergulhar para depois ver o que acontece: porque a vida não tem de ser servida como uma taça que se esvazia, mas como o jarro que se renova a cada gole bebido. Para reinventar-se é preciso pensar: isso aprendi muito cedo. Apalpar, no nevoeiro de quem somos, algo que pareça uma essência: isso, mais ou menos, sou eu. Isso é o que eu queria ser, acredito ser, quero me tornar ou já fui. Muita inquietação por baixo das águas do cotidiano. Mais cômodo seria ficar com o travesseiro sobre a cabeça e adotar o lema reconfortante: 'Parar pra pensar, nem pensar!' O problema é que quando menos se espera ele chega, o sorrateiro pensamento que nos faz parar. Pode ser no meio do shopping, no trânsito, na frente da TV ou do computador. Simplesmente escovando os dentes. (...) Sem ter programado, a gente para pra pensar. Pode ser um susto: como espiar de um berçário confortável para um corredor com mil possibilidades. Cada porta, uma escolha. Muitas vão se abrir para um nada ou para algum absurdo. Outras, para um jardim de promessas. Alguma, para a noite além da cerca. Hora de tirar os disfarces, aposentar as máscaras e reavaliar: reavaliar-se. Pensar pede audácia, pois refletir é transgredir a ordem do superficial que nos pressiona tanto. Somos demasiado frívolos: buscamos o atordoamento das mil distrações, corremos de um lado a outro achando que somos grandes cumpridores de tarefas. Quando o primeiro dever seria de vez em quando parar e analisar: quem a gente é, o que fazemos com a nossa vida, o tempo, os amores. E com as obrigações também, é claro, pois não temos sempre cinco anos de idade, quando a prioridade absoluta é dormir abraçado no urso de pelúcia e prosseguir, no sono, o sonho que afinal nessa idade ainda é a vida. Mas pensar não é apenas a ameaça de enfrentar a alma no espelho: é sair para as varandas de si mesmo e olhar em torno, e quem sabe finalmente respirar. Compreender: somos inquilinos de algo bem maior do que o nosso pequeno segredo individual. É o poderoso ciclo da existência. Nele todos os desastres e toda a beleza têm significado como fases de um processo. Se nos escondermos num canto escuro abafando nossos questionamentos, não escutaremos o rumor do vento nas árvores do mundo. Nem compreenderemos que o prato das inevitáveis perdas pode pesar menos do que o dos possíveis ganhos. Os ganhos ou os danos dependem da perspectiva e possibilidades de quem vai tecendo a sua história. O mundo em si não tem sentido sem o nosso olhar que lhe atribui identidade, sem o nosso pensamento que lhe confere alguma ordem. Viver, como talvez morrer, é recriar-se: a vida não está aí apenas para ser suportada nem vivida, mas elaborada. Eventualmente reprogramada. Conscientemente executada. Muitas vezes, ousada. Parece fácil: 'escrever a respeito das coisas é fácil', já me disseram. Eu sei. Mas não é preciso realizar nada de espetacular, nem desejar nada excepcional. Não é preciso nem mesmo ser brilhante, importante, admirado. Para viver de verdade, pensando e repensando a existência, para que ela valha a pena, é preciso ser amado; e amar; e amar-se. Ter esperança; qualquer esperança. Questionar o que nos é imposto, sem rebeldias insensatas mas sem demasiada sensatez. Saborear o bom, mas aqui e ali enfrentar o ruim. Suportar sem se submeter, aceitar sem se humilhar, entregar-se sem renunciar a si mesmo e à possível dignidade. Sonhar, porque se desistimos disso apaga-se a última claridade e nada mais valerá a pena. Escapar, na liberdade do pensamento, desse espírito de manada que trabalha obstinadamente para nos enquadrar, seja lá no que for. E que o mínimo que a gente faça seja, a cada momento, o melhor que afinal se conseguiu fazer." 

(Lya Luft)

Encontrei-me em meio às linhas poéticas de Lya Luft.
Eu só quero viver e ser feliz!
E o TAB? Ele não me domina e nem de define. E viva a vida!!!

domingo, 5 de abril de 2020

O Equívoco do "Fulano é Bipolar"




O maior equívoco que as pessoas cometem, é esse. Ter bipolaridade para muitos, é como se a pessoa mudasse de opinião a todo instante ou mesmo, falasse com você um dia e outro não. Quando escuto essas coisas fico muito incomodada. Tenho bipolaridade e sei o que é ter esta condição. Tive três diagnósticos. Fugi dos dois primeiros. Mas quando o terceiro chegou, foi como um soco no estômago. Como assim? Mais uma vez? Precisei parar, pesquisar, conversar sobre... Voltei ao médico. Precisei conhecer mais sobre tudo isso. Percebi, que precisava aceitar a doença e o tratamento. Assim, como, todas as mazelas que o conjunto traz. Mas não foi nada fácil. Sofri muito. Adaptação de medicação, efeitos colaterais, rejeições... Olhava para o meu passado e cada vez mais, via meu transtorno presente nos conflitos da minha vida, desde a mais tenra idade. Eu era "sem pavio". Brigava por qualquer coisa, mas era a rainha do bom humor, também. Mas eu estava decidida a lutar por uma vida melhor e mais feliz. Voltei a fazer terapia, comecei acupuntura para o TAB (o meu médico acupunturista estudou o transtorno na acupuntura e aplica em mim) e entrei para a academia. Lá, na academia, descobri as artes marciais. E foi o despertar de uma grande paixão. O kickboxing. Comecei a treinar intensamente. E fui percebendo, que as mudanças de "pólos" se distanciavam, que a intensidade das crises diminuíam e eu começava a conhecer meus gatilhos. Minha psicóloga chamou minha família para uma conversa e pediu que lhes falassem o que em mim incomodava a cada um. E à medida que relatavam, ela ia explicando qual característica era do transtorno e qual era da minha personalidade. Assim, como também, de que forma lidar comigo em cada fase, o que era especificamente o transtorno e a troca de telefones para as necessidades. Tudo  em casa ficou mais fácil e mais tranquilo. Hoje, consigo ter mais tempo em equilíbrio. Embora os desequilíbrios ainda aconteçam, posso dizer que sou feliz, mesmo na minha situação. Trabalho normalmente e sou respeitada em ambos os ambientes de trabalho. Os colegas têm conhecimento do TAB em mim e me ajudam quando preciso. Alguns já me conhecem tanto, que são capazes de saber o meu humor ao olhar pra mim. Até mesmo os netos, já aprenderam a cuidar da vovó.
Falar em Transtorno Afetivo Bipolar, é saber que eu tenho o transtorno, mas o transtorno não me tem. A Bipolaridade não me define. Sou muito mais que um transtorno.
Não sou bipolar. Eu tenho bipolaridade.

História Real***

Bipolaridade e diagnóstico diferencial



Não é fácil identificar logo a depressão bipolar quando esta se inicia. Os sintomas muitas vezes parecem problemas separados, pelo que dificilmente são reconhecidos como fazendo parte de um problema mais vasto.
Embora por vezes a depressão se apresente com manifestações muito fortes e evidentes, são muito frequentes as manifestações mais moderadas que podem passar despercebidas e que tornam o diagnóstico de bipolaridade num dos mais difíceis e complexos em saúde mental.
Apesar do interesse crescente no transtorno bipolar e do número cada vez maior de pesquisas quer em nível do diagnóstico, da neurobiologia, da epidemiologia e do próprio tratamento, o transtorno bipolar continua a ser tardiamente diagnosticado e inadequadamente tratado. Estima-se que apenas 1 em cada 4 casos sejam diagnosticados.
O transtorno bipolar apresenta sintomas comuns a outras patologias psiquiátricas, o que torna a tarefa difícil. O próprio desenvolvimento do transtorno pode, por vezes, induzir em erro – podemos por exemplo, ter de esperar alguns anos antes de surgir um episódio de mania, pelo que na ausência deste se fará um diagnóstico de depressão unipolar e não, de bipolaridade. Somente nos últimos anos, se tem reconhecido a importância dos quadros de “hipomania” (quadros de mania mitigada, que não se apresentam com a gravidade dos quadros de mania propriamente dita).
De referir ainda que tanto os pacientes como os familiares podem considerar a hipomania como normal, e como tal não a valorizam, confundindo-a.
Em termos de diagnóstico podemos dizer que a mania é o episódio mais característico, sendo também aquele que mais resulta em internamentos agudos em virtude das graves mudanças de comportamento e conduta que provoca. A hipomania – a sua forma mais leve, era praticamente desconhecida pela maioria dos clínicos até pouco tempo, sendo confundida com a normalidade, ou seja, com os traços de personalidade do indivíduo.
A diferenciação entre a depressão bipolar e a depressão unipolar, especialmente quando é recorrente, pode não ser fácil. Há de salientar, contudo, que a diferenciação entre ambas é fundamental, em virtude do tratamento da depressão bipolar incluir necessariamente o uso de estabilizadores de humor, pelo risco de viragem para a fase de mania e da possível intervenção no curso e prognóstico da doença.


ERRATA:  1 - Fizemos a substituição do termo "distúrbio", por depressão ou transtorno.
                 2 - Também foram realizados alguns ajustes ortográficos.

Ter Transtorno Bipolar...



É odiar quem você ama
Maltratá-lo tanto... E se arrepender tão amargamente, como o veneno de uma serpente.

É não saber quem você é, o que realmente quer,
Mesmo que o mundo todo te disser...

É ser tão sábio e tão tolo tão igualmente
Que facilmente o pratica mentalmente.

É não dormir, só dormir
Sorrir e te fazer sorrir.

Se iludir e te persuadir sem você ao menos interferir,
Te ferir e me ferir...

Chorar até as lágrimas secarem
Acordar como se fosse "dono dos sete mares"
É estar bêbada sem frequentar bares...

É ver meus neurônios torrando
É sentir me afogando
E estar só boiando.

É pensar primeiro
Acordar por último
E se sentir sempre um inútil.

Sentir que a solidão habita em você,
Que com você esta todo o poder,
De só querer e acontecer...

É pensar que nunca posso te perder
Pois sem você eu posso perecer.

É ter uma mente tão grande que não cabe no corpo.

Olhar pro teu rosto,
E sentir aquele mesmo gosto
Do desgosto do mês de agosto.

É ser extremamente inteligente... Coerente
Ser tão indiscreto que chega a ser indecente
Ser tão elegante que te deixa ofegante.

É te matar de inveja,
Igual quando o céu troveja,
E atrapalha quem veleja.

É ser tão carente,
Que sem perceber de repente,
Acabo me achegando a “Dementes”.

É ser tão ausente
Até ser transparente...

É não ter nenhuma confidente,
Para dizer que estou
Extremamente doente.



Tratamento TAB


Para a pessoa com TAB (Transtorno Afetivo Bipolar), é necessário que haja um autoconhecimento e o conhecimento do TAB. E, isso só é possível, quando seguimos o tratamento e buscamos conhecer o TAB de forma verdadeira e o melhor possível. Procurei livros escritos por psiquiatra, o qual destaco UMA MENTE INQUIETA de KAY REDFIELD JAMISON, cuja narrativa descreve  toda a sua luta no conhecimento da bipolaridade, como seu autoconhecimento enquanto psicóloga/psiquiatra e como pessoa com bipolaridade. Uma narrativa linda, sofrida e permeada de descobertas. Sua importante contribuição nas pesquisas do lítio e suas estratégias ao criar um ambulatório para a patologia, dentro de uma importante universidade. Simplesmente, imperdível. Os artigos científicos e blogs médicos, também ajudam de forma imensurável.


Eu, criança!



Que EU nunca perca de mim, a menina moleca e alegre que me (re)conquistou.

Criança

  


A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou.
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.

(Fernando Pessoa)
Imagens da Internet

sábado, 4 de abril de 2020

Ela...


Ela é
liberdade.
O voo de uma borboleta
na primavera.
E as suas cicatrizes
são a prova da resistência
de toda fênix que
renasce da guerra.

Da Silva Jr -
@umaflorparaela
(Poema)

O melhor da vida é viver!!


Viver e ser feliz, sem preocupar-se com o que dizem ou pensam os outros.
Viver sentindo o toque da brisa mais suave, a mais bela das melodias, o mais inebriante dos aromas, o mais puro sorriso das crianças, o melhor de todos os desejos... viver a plenitude dada por Deus.
"Viver e não ter a vergonha de ser feliz"...
Simples assim!!
Quero viver o que me foi ofertado gratuitamente por Deus.
Afinal, "dane-se o mundo que eu não me chamo Raimundo!" (risos)
Ter opinião não é ser dono da verdade absoluta. É pensar, opinar, concordar, discordar, "refletir" acerca daquilo tudo que o rodeia. É viver de forma plena, a sua liberdade!
Viva e deixe viver!

30 de março - Dia Mundial do Transtorno Bipolar





🙃☹😊
Dia Mundial do Transtorno Bipolar
☹🙃
A data é celebrada no dia do aniversário do pintor holandês Vincent Van Gogh, que foi diagnosticado, postumamente, como provável portador do transtorno. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o transtorno afetivo bipolar atinge atualmente cerca de 140 milhões de pessoas no mundo e é considerada uma das principais causas de incapacidade. 
O objetivo da celebração é chamar a atenção mundial para os transtornos bipolares, eliminar o estigma social e levar informação à população, educando e sensibilizando para a doença, que representa um desafio significativo para pacientes, profissionais de saúde, familiares e comunidade.
A causa exata do transtorno afetivo bipolar é desconhecida. No entanto, estudos sugerem que o problema pode estar associado a alterações em certas áreas do cérebro e nos níveis de vários neurotransmissores, como noradrenalina e serotonina. Esse desequilíbrio reflete uma base genética ou hereditária para o transtorno, que tem como principais características episódios depressivos alternados com episódios de euforia (também chamada de mania ou hipomania, dependendo da intensidade e da duração) e casos em que há uma mescla dos episódios depressivos com os de euforia.