terça-feira, 5 de maio de 2020

Falando em amor



Falar em amor é adentrar em terreno arenoso. Andar sobre solo árido.

Não sei se devido os muitos acontecimentos exacerbados de violência, ultimamente se vê e ouve-se muito falar em amor. Não só o amor romântico, mas o amor humano e/ou divino. Amor(es) que encontram-se ou separam-se em algum momento da caminhada. O amor para consigo e para com o outro. 

Na Bíblia, “ o amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta ” (1 Coríntios 13:4-7).

Para o Poeta, “(...) Amor é estado de graça e com amor não se paga. Amor é dado de graça, é semeado no vento, na cachoeira, no eclipse. Amor foge a dicionários e a regulamentos vários. (...) Porque amor não se troca, não se conjuga, nem se ama. Porque amor é amor a nada, feliz e forte em si mesmo. Amor é primo da morte, e da morte vencedor, por mais que o matem (e matam) a cada instante de amor” (Carlos Drummond de Andrade).

Para mim, o amor é uma plantinha que precisamos cuidar diariamente. Cotidianamente. Amor de pais e filhos. Amor de irmãos. Amor de família. Amor de amigos. Amor “romântico”, humano. O amor para consigo mesmo. E também, o amor divino (tão necessário e tão frágil). É necessário muito carinho e zelo. Caso contrário, não se firma e se esvai... solto... ao vento.

Muitas vezes nos perdemos nas relações por não sabermos a dosagem do “amar”. Ou amamos demais o outro e nos amamos de menos, ou amamos o outro de menos, por nos amarmos demais. Um grande paradigma da “existência”. 

Quando falo em amar a nós mesmo, não é só o amor narcisista. Mas o amor que me é suficiente e absoluto. Eu me amo tanto, que já me basto. Então não há espaço para amar o outro. Mesmo que o queira, não aprendi a cuidar dessa plantinha. E quando amo tanto o outro que chego a esquecer-me de mim, também deixei de cuidar dessa plantinha, por não saber como fazê-lo.

Tudo precisa ser dosado. Eu amo na mesma medida em que também preciso me amar e ser amada. Quando nos dedicamos demais ao outro, nos anulamos. E quando nos amamos demasiadamente, também nos sabotamos. Todos precisam de “um amor para chamar de seu”. 

Quando se ama de verdade (“e que seja infinito enquanto dure”), dedica-se um tempo àquele que é digno desse amor. Faz-se loucuras (por vezes), cantamos na rua e na chuva, sorrimos por qualquer motivo, queremos estar perto mesmo quando estamos longe. Amamos na mesma proporção que nos amamos. Mas quando o “peso da balança” vai para um lado apenas, esse amor torna-se frágil e perigoso. Alguém sairá machucado. Ferido.

Em qualquer relação é preciso fazer escolhas. Escolhe-se amar ou não. Tenho muitos amigos. Amigos de décadas e amigos de pouco tempo. Mas, amigos (e não, colegas)! Aqueles para tudo, mesmo! Gosto de cuidar dessas plantinhas. Meu jardim lindo e florido. Sou afetiva demais. Amo demais. Insanamente, intensamente... demais! 

Meus amigos me conquistaram e eu os conquistei. Gosto de estar perto de todas as formas e maneiras. “É preciso amar direito, um amor de qualquer jeito(?). Ser amor a qualquer hora, ser amor de corpo inteiro. Amor de dentro pra fora”. Amor de valor. Amor escolhido. Amor amado.

O amor por nós mesmo, perpassa o limiar da razão e da emoção. Em vários momentos das nossas vidas, precisamos nos desconstruir. Desconstruir a nós mesmos. Nossos “valores”, (pré)conceitos, sentimentos confusos e rachados... E nos (re)construirmos. Reconstruirmos o nosso Eu e a nossa “essência”. Dessa forma, somos capazes de amar, amar e amar. Nos desfolhando e nos renovando... Sempre. Dando chance a si e ao outro... Na mesma proporção.

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